Apesar de parecer, para alguns, algo um tanto nostálgico, com ares de monotonia e chatice, folhear antigos álbuns de fotografias de família, pode ser uma coisa bem interessante e curiosa.

Ver fotografias, cenas do passado congeladas, que retratam pessoas, lugares públicos, residências, paisagens, prédios e tantas outras coisas, pode impressionar pelo contraste que proporcionam no inevitável comparativo entre o “ontem” e o “hoje”. Ver prédios que não existem mais, casas em seus estados originais ou então pessoas, com vidas tão distantes do nosso tempo e que ali são visualizadas, levando a um certo sentimento de proximidade, ou ainda, observar como rostos envelhecidos do nosso cotidiano eram em sua infância e juventude.

Também, as pessoas que aparecem nas nossas fotos antigas, sejam elas familiares ou figuras que devido ao tempo, se tornaram esquecidas das atuais gerações, chamam a atenção não apenas por quem são, ou pela aparência de seus rostos, mas também por aquilo que estão vestindo, afinal, roupas e peças do vestuário também mudam com o passar dos anos. E como mudam!

Sem entrar muito em detalhes, pois o tema pode ser abordado das mais variadas formas e focos, atentemos para apenas duas peças que já foram comuns ao vestuário masculino, peças que acredito, todos conheçam, mas que poucos talvez o tenham realmente utilizado, o “suspensório” e o “chapéu”.

O uso de calças sempre, ou quase sempre, foi acompanhado de um complemento de vestuário empregado com a finalidade de segurar as calças na altura desejada, evitando que as mesmas por, geralmente serem um pouco maiores do que a circunferência da cintura, em um movimento qualquer abaixassem ou mesmo viessem a cair, causando um grande embaraço ao homem.

Enquanto hoje em dia, os cintos são uma unanimidade, antecede a sua popularização (ocorrida após os anos 20), o uso dos “Suspensórios”, uma peça com mais de 200 anos de existência e que já foi muito utilizada pelos riomafrenses.

Compondo inclusive trajes típicos de imigrantes que se estabeleceram em nossas cidades, como os alemães-bucovinos (conforme pode-se notar em imagem das comemorações do cinquentenário da imigração em 1937), os suspensórios, com seu formato de alças duplas à frente que se unem às cotas e se prendem as calças por botões ou clipes, aparecem frequentemente em nossas fotografias, tanto em jovens quanto adultos, integrantes de nossas famílias em locais privados (como residências) ou outras pessoas em locais públicos.

Seja por sua utilidade prática, de proteger a cabeça, seja por conveniências da moda, o chapéu foi peça obrigatória do vestuário masculino durante muito tempo, de pessoas simples às autoridades de nível estadual ou federal, o seu amplo uso não é só de conhecimento geral, como pode ser verificado sem se sair de Riomafra, seja nas fotografias que mostram o vovô, seja usado por carroceiros durante seus afazeres, por músicos em festas, pelo interventor no Estado do Paraná em visita à Rio Negro, Manoel Ribas ou então pelo Presidente da República Juscelino Kubitschek, desde sua descida do avião no aeroporto de Mafra, até as solenidades no Batalhão Mauá, enfim uma peça comum a homens de todas as classes sociais.

Uma peça tão importante e utilizada em épocas passadas, que influenciou a própria fabricação de automóveis, pois até a década de 1940, nossos carros costumavam apresentar o teto alto, a fim de permitir que seus ocupantes continuassem a usar seus chapéus mesmo embarcados.

Importância e uso que também levava a adoção de costumes, procedimentos específicos, regras, como o caso de não utilizar chapéu dentro de casa ou lugares cobertos, de possuir cabideiros próximo às portas de entrada, para que os chapéus fossem pendurados ao entrar em um local fechado, a existência de uma espécie de guarda-volumes dedicada exclusivamente a “chapéus” em eventos e festividades, ou ainda, a influência na própria maneira de se cumprimentar à distância, utilizando-se para isso de pequenos toques / movimentos no chapéu.

Mas o mundo é dinâmico e os hábitos de vestuário também são influenciados por essa dinâmica, seja pelo surgimento de novas peças, com a mesma utilidade, porém mais práticas ou mesmo pela moda e pelo consumismo, assim tanto suspensórios quanto chapéus foram gradativamente perdendo espaço, caindo em desuso, num processo que é claro não os extinguiu, mas reduziu em muito seu número de usuários nos dias atuais.