Aqui em Mafra, seja em solicitações formais ou em meio a descompromissadas rodas de conversa, são diversas as ideias das principais obras que se fazem necessárias no Município, melhorias do tráfego de veículos, a acessibilidade a prédios públicos e particulares, patrolamento, pavimentação de ruas, a terceira ponte sobre o rio Negro ou então as marginais da BR 116. Ideias entre as quais também figura a construção de um novo prédio para nossa Prefeitura.

O antigo prédio, localizado entre as ruas Vitorino Bacellar, Getúlio Vargas e Frederico Heyse, já a algum tempo não comporta sozinho a estrutura administrativa da Prefeitura atual (secretarias, funcionários…), gerando por consequência, uma descentralização prejudicial à população, que em certos casos, precisa girar pela cidade por questões que poderiam ser resolvidas caso todas, ou a maioria das Pastas do Executivo, estivessem centralizadas.

Também é fácil verificar que o prédio atual é velho, necessita de reformas, não possui opções muito viáveis para uma possível ampliação (uma vez que ocupa quase toda a área de seu terreno e, é cercada por ruas), não tem estacionamento próprio, levando a ocupação das vagas disponíveis nas próprias vias existentes ao seu redor, prejudicando ainda mais o já complicado trânsito do centro mafrense.

Assim, quando se fala da construção de uma nova Prefeitura é inevitável também recordar a curiosa história da construção do atual prédio, que para alguns, explica o fato da existência de vários “causos” de assombrações ou ocorrências “estranhas” (para não dizer sobrenaturais) por aqueles corredores. O que também para muitos, não passa de mera superstição, fruto exclusivo da imaginação.

Após os primeiros anos de criação de Mafra, é fácil dizer que a administração municipal não pretendia construir o prédio da Prefeitura, no local onde foi erguido tempos depois e localiza-se até nossos dias.

Para isso é válido lembrar que, mesmo após a criação de Mafra e a consequente autonomia administrativa do novo município em 1917, em termos religiosos católicos, os mafrenses continuavam ligados à Rio Negro, pois continuavam a integrar a Paróquia do Senhor Bom Jesus da Coluna, sob a tutela do vigário Cônego José Erzser, e assim fazer parte da arquidiocese de Curitiba.

Quando se buscava resolver essa situação, com a construção de uma igreja em território catarinense, viu-se a ocorrência de certos “atritos” entre o vigário e o então superintendente municipal, Vitorino Bacellar. Enquanto Ernser era a favor da obra do templo religioso no alto de Mafra, evitando com que as igrejas de ambas cidades se localizassem próximas uma da outra, Bacellar insistia na realização da obra em um pequeno terreno próximo a atual praça Hercílio Luz.

Atrito este, que rendeu reclamação ao bispo da Diocese, mas que terminou com a prevalência da vontade do vigário (que inaugurou a igreja São José em 1930) e que resultou na permanência ociosa daquele terreno “sugerido” por Vitorino, local que por muitos anos (antes da criação de Mafra) abrigou o antigo cemitério de Rio Negro. Fato que pode até parecer um tanto estranho hoje em dia, pois a existência de um cemitério justamente ali, não parece algo muito palpável.

Para esclarecer o que pode parecer duvidoso, atentemos que, o atual cemitério de Rio Negro data de 1885; que enquanto Riomafra consistia em uma única cidade, compartilhavam do mesmo campo santo; e, que por assim ser, o cemitério mafrense atual só foi construído após a própria criação do município em 1917.

Também é válido lembrar que a primeira estrutura religiosa de nossas cidades, a Capela Curada (que originou a Igreja do Senhor Bom Jesus), foi originalmente erguida na margem esquerda do rio Negro em 1831 (lado mafrense) e que por costume, como pode ser observado em outros municípios, antigamente os cemitérios eram estabelecidos próximos às igrejas (ou capelas); e ainda, que desde a década de 1820, o Barão de Antonina havia centralizado naquela área, a sede dos trabalhos relativos à construção da Estrada da Mata, e por consequência o povoamento, que levava à natural ocorrência de falecimentos nessa região da cidade, se fazendo assim necessário a existência de um cemitério ali próximo.

Como o ocorrido em outros casos, buscando centralizar os principais serviços no lado direito do rio, o cemitério foi transferido para o lado Rionegrense, sendo o antigo campo santo abandonado e os restos mortais ali existentes, transladados. Ficava assim um terreno público disponível, que seria herdado pelo governo Mafra.

Diante disso pode-se imaginar que “talvez” tenha sido a ideia de Vitorino Bacellar, ocupar o terreno do antigo cemitério com uma igreja, mantendo o terreno como área sagrada, o que, como já comentamos, não “deu” certo.

Assim, em 1937, as obras de construção da Prefeitura Municipal de Mafra iniciaram naquele local, sendo concluídas e inauguradas ainda no mesmo ano. Prédio que atualmente faz frente para a rua Vitorino Bacellar e que pode ser facilmente distinto da ala construída anos depois, pelas diferenças de arquitetura, como o acabamento das paredes ou então o formato de sua base.

Conta-se que durante as obras, os construtores puderam verificar que, a retirada e o translado dos restos mortais de alguns corpos ali sepultados na época do cemitério, foram realizados “sem muito” cuidado, pois os pedreiros teriam encontrado ossos humanos por ocasião do feitio das fundações do prédio do Paço Municipal que estavam erguendo.

Histórias que se contam como hipóteses para explicar “casos” tidos como aparições, “sensações estranhas” tidas como sobrenaturais, que tem como palco uma Prefeitura construída sobre um antigo cemitério, mas cuja necessidade de substituição do Prédio se deve a um motivo puramente humano, ocasionado pelo simples passar dos anos e pelas alterações naturais da estrutura administrativa durante esse tempo.