Quem acompanha as diversas festividades étnicas existentes em nossa região, repletas de uma musicalidade, pratos típicos e alegria contagiante, pode ter a falsa ideia de que a chegada e adaptação desses imigrantes a nossa terra, ou seja, seu recomeço, foi da mesma forma tranquila e feliz. Doce engano, pois recomeçar não é fácil e o recomeço deles, ao menos da maioria, foi muito difícil, como foi o caso dos imigrantes poloneses.

A longa e penosa viagem de Curitiba a Rio Negro, nos primeiros anos da década de 1890, era como um aviso da complicada situação em que os poloneses estavam para se inserir. Além da natural demora e desconforto em que homens, mulheres, adultos, crianças e idosos eram transportados em carroções juntamente de suas bagagens, a quase totalidade da viagem ara feita sob uma paisagem de puro vazio, áreas completamente desabitadas, o que, para um imigrante em uma terra estranha, não sugeria uma grande hospitalidade.

Uma vez em Rio Negro, que contava em seu centro com pouco mais de 30 casas espalhadas, os imigrantes eram alojados em um grande barracão, juntamente com outros imigrantes chegados anteriormente, até que fossem encaminhados às colônias. Mas a lentidão desse processo fazia com que o barracão permanecesse abarrotado de gente, chegando a abrigar quase 2 mil pessoas de uma única vez em 1891.

O ambiente lotado, o telhado de zinco (que ajudava a tornar a atmosfera muito quente), o acúmulo de sujeira, a falta de higiene e, a alimentação deficiente fornecida aos imigrantes, contribuiu para que essas pessoas, desacostumadas ao nosso clima e ainda sensíveis às nossas doenças, caíssem de cama acometidas de febre e tifo.

Doentes, os poloneses eram levados ao pequeno e precário hospital da cidade, igualmente lotado, no qual faltava comida e a assistência de um único médico ocorria apenas uma vez a cada 8 dias. Desassistência, que ainda, combinada com a falta de remédios, levou a ocorrência de 2 a 3 mortes ao dia (já em setembro de 1891 mais de 130 imigrantes jaziam no cemitério municipal).

Porém, a ida para as colônias naquele momento (na região da atual Itaiópolis), não representava exatamente uma melhora na dramática situação dessas pessoas, mas apenas a mudança para um contexto da mesma forma complicado.

A estrada, até onde existia, era apenas um corte na mata, esburacada, enlameada e obstruída por diversas árvores pelo caminho, quando acabava, tinha-se que seguir por uma picada, um estreito carreiro entre paredões de árvores.

As colônias ficavam em locais totalmente desabitados, pelo menos é como eram considerados, pois contavam apenas com a presença hostil de indígenas, que é claro, não recebiam nem um pouco bem, aquela “invasão de suas terrasâ€, o que ao longo do tempo ocasionou diversos confrontos entre nativos e colonos.

Nas colônias tudo estava a ser feito, mata a ser derrubada, roças a serem plantadas, casas para serem construídas, bocas a serem alimentadas, ou seja, não haviam as condições mínimas para que os imigrantes pudessem se auto sustentar naquele início de colonização, então precisavam dispor da precária assistência prestada na sede do município, a cerca de um dia de caminhada.

Ao chegarem a Rio Negro abrigavam-se novamente no barracão e aguardavam a liberação dos alimentos a eles destinados (sem receber refeições nesse período), espera que chegava há até cinco dias e, que era compensada com mantimentos suficientes para sustentar a família entre uma e duas semanas, quando mais uma vez teriam que retornar à sede.

Assim os primeiros tempos de nossos antepassados poloneses nesta terra, foram realmente uma provação à suas pretensões de um recomeço de vida, uma esperança que para muitos, não todos, realizou-se.