Chuva forte, vento, raios e trovões compõe um cenário que, de certa forma é até comum nessa época do ano, quando o calor do verão contribui para a ocorrência de tempestades.

Esses fenômenos atmosféricos não recebem muita importância por alguns, que somente lhes reservam atenção a partir do momento que causam alguma interferência em seus afazeres rotineiros, como a falta de energia elétrica. Para outros, as tempestades são sinônimo de preocupação, pois toda a agitação da natureza que elas produzem, podem levar à consequências bem desagradáveis: Granizo que quebra vidros, danifica veículos e destrói plantações; vento que destelha casas; água que estraga móveis e produtos agrícolas; raios que queimam aparelhos eletrônicos, matam animais soltos pelo pasto e até pessoas.

É claro que os acontecimentos decorrentes das tormentas não podem ser completamente evitados, mas com certeza podem ser minimizados por uma preparação antecipada, como o recolhimento de animais do pasto, não se expondo em locais com maior chance de receberem uma descarga elétrica, construções mais sólidas, colocando o carro na garagem, ou seja, prevenção.

Porém outras formas de se minimizar e até evitar os males causados pelas tempestades, não tão ortodoxas, eram bem comuns em nossas cidades no passado, baseadas em uma mescla de religiosidade, costumes e crendices. Formas que com o tempo foram sendo esquecidas ou relegadas ao desuso, mas cujo olhar mais atento poderá identificar sua presença ao nosso redor nos dias de hoje, numa interessante lição de coexistência entre passado e presente, crença e ceticismo.

No passado (e ainda no presente), o céu escurecido pelas pesadas nuvens de chuva e o vento característico que anuncia a proximidade das tempestades, eram o cenário a partir do qual se preparavam desde uma única ação até uma série delas, num verdadeiro pequeno ritual, geralmente desencadeado quando a chuva e o vento começassem. Velas eram acesas diante de imagens ou quadros de santos, aos quais se dirigiam orações pedindo proteção contra a tempestade, sendo comum também a queima de palma benta, utilizando-se fogo apanhado na boca do fogão à lenha.

Talvez pelo seu efeito visual e sonoro, os raios e trovões que faziam tremer as crianças, deixavam os adultos em alerta, que procuravam evitar o efeito de raios que por ventura caíssem nas proximidades da residência, afastando todos os familiares das janelas da casa e o que é bem curioso, cobrindo os espelhos, geralmente existentes nos quartos anexos à penteadeiras com toalhas ou cobertores, assim como escondendo as tesouras de metal utilizadas nas costuras, colocando-as dentro de gavetas ou sob travesseiros de forma a não deixar o metal exposto para que pudessem atrair raios.

Mas como tudo é passageiro, seja por força das ações de nossos avós ou por simples obra do acaso na maioria das vezes, as tempestades terminavam sem ter causado qualquer dano efetivamente, levando consigo os medos e receios daquelas pessoas, o que, em algumas ocasiões ainda era premiado com um arco-íris, como o visto no último domingo em Riomafra, um belo fenômeno da natureza, com suas cores e formato que impressionam e encantam pessoas de todas as idades em todas as gerações, lindo e inofensivo. Desde que ninguém chegasse até alguma de suas bases, pois seria puxado para o céu! Pelos menos é que acreditavam os antigos.

Assim, essa mescla de religiosidade, costumes e crendices, essas práticas passadas pelas gerações, que ensinavam formas de proteção contra os males das tempestades, podem até ser considerados estranhos ou infundados, mas fizeram e ainda fazem parte da história e cultura da nossa gente.