Se hoje em dia, o trânsito de pessoas entre Rio Negro e Mafra (ou vice-versa), seja por quaisquer motivos, profissionais, estudantis, comerciais ou outras conveniências, é uma verdadeira rotina para muitos riomafrenses, talvez seja fácil de imaginar que essa ação, essa “necessidade” de cruzar fronteiras entre os nossos municípios, não é algo muito recente.

Como em qualquer tempo, a vida sempre implicou em movimento e esse movimento não é só capaz de percorrer distâncias, como também transpor os obstáculos que estiverem em seu caminho e, que se tratando do território de Riomafra, com certeza os nossos rios se constituíam grandes obstáculos àqueles que aqui viviam ou passavam a mais de 100 anos atrás.

Obstáculos, em tempos mais remotos, sempre superados a custa de esforços, maiores ou menores dependendo da situação, é claro, podendo ser à nado (lembre do caso dos nossos tropeiros), por pequenos botes, por balsa, chegando em certos casos (com locais e datas específicas) à comodidade, agilidade e facilidade do uso das “pontes”.

E se a ideia de pontes em Riomafra remete logo à lembrança de nossa ponte metálica (Dr. Diniz Assis Henning), ou então da ponte Coronel Rodrigo Ajace, ou ainda à ponte Engenheiro Moacyr Gomes de Souza (mais conhecida como ponte dos peixinhos) na BR 116, é interessante lembrar que apesar de sua importância atual, essas pontes não são as mais antigas de nossas cidades e, nem a circulação de pessoas sempre seguiu a mesma ordem (volume) que lhes confere a importância atual. Assim, olhar um pouco para o passado e além da nossa área central, pode revelar alguns interessantes fatos de nossa história.

Fatos estes que podem fazer pensar que muitas vezes, algo aparentemente 100% benéfico, como uma ponte que facilita o contato entre duas margens de um curso d’água, muitas vezes pertencentes a estados ou cidades diferentes, também pode se mostrar como um grande problema.

Entre o final do século 19 e início do século passado, quando os estados do Paraná e Santa Catarina ainda disputavam na justiça a delimitação de suas fronteiras, muitas vezes essa disputa não ficou restrita apenas aos tribunais e discursos políticos, tomando formas de atos práticos, que visavam prejudicar ou simplesmente “provocar” o adversário.

É assim que, ao contrário de tempos antes, quando durante enchentes, as águas de nossos rios haviam derrubado algumas de nossas pontes, causando prejuízos e transtornos, temos dessa vez a destruição de pontes (sobre o rio São Lourenço), realizada de forma proposital, prejudicando o transporte e comércio de erva mate que muito se utilizava e necessitava daquelas passagens. Importância estratégica com que outra ponte, agora no interior rionegrense, já se revestiu em nosso passado.

Anos antes do caso da destruição das pontes do São Lourenço, na década de 1880, quando a ponte metálica ainda não fazia parte da paisagem riomafrense e quando a cidade mais próxima de nós e que tínhamos maior contato era a Lapa, uma de nossas principais (senão a principal) vias de comunicação, era a chamada “Estrada Velha da Lapa” ou “Estrada das Tropas”, caminho não só de tropeiros e comerciantes como também rota percorrida a duras penas por boa parte dos imigrantes que aqui chegaram.

Nessa velha estrada, exatamente na divisa entre Rio Negro e Lapa, uma ponte de consideráveis dimensões até para os dias atuais, construída em madeira e com aproximadamente 500m de comprimento, permitia a passagem de pessoas, animais e carroças e a ligação rápida entre as duas Vilas, a do Príncipe e a do Rio Negro (distantes cerca de 44 km).

Em plena guerra civil, durante a Revolução Federalista, enquanto Pica-Paus (soldados do exército) e Maragatos (revoltosos gaúchos) trocavam tiros sobre a Vila rionegrense, o visível confronto direto escondia planos bem mais estratégicos e ousados, que envolviam aquela ponte no rio da Várzea.

Foi em novembro de 1893 que um grande estrondo anunciou aos militares do exército, instalados nas proximidades do cemitério, que algo muito ruim havia acontecido: gaúchos haviam contornado a posição da tropa Pica-Pau e dinamitado parcialmente a ponte sobre o rio da Várzea, o que muito mais do que representar qualquer prejuízo material, era realmente um grande empecilho a um possível recuo para a Lapa, demonstrando uma clara intenção maragata em confrontar-se decisivamente com a tropa do exército.

Pica-Paus que, é claro, percebendo as possibilidades do inimigo, trataram de recuperar às pressas a ponte e recuar para a Lapa (onde ocorreria o famoso episódio do “Cerco”), antes de que qualquer investida mais forte fosse desencadeada.

Dessa forma, algumas de nossas antigas pontes, ao mesmo tempo que representavam o desenvolvimento e o progresso local e, simbolizavam a facilidade e comodidade que oportunizavam a nossa população, também, em determinadas ocasiões, foram alvos de discórdias, chegando a constituir-se em verdadeiros “problemas” no caminho de certos interesses.