12 de abril de 1945, na Itália, em plena 2ª Guerra Mundial, os repórteres de guerra entrevistam o mais conhecido soldado brasileiro daquele conflito, responsável pelo comando de um seleto grupo de militares (ao qual eram atribuídas missões de alto risco), aquele homem, Rionegrense de nascimento, com o característico semblante tranquilo, com as mãos postas à cintura, na frente de seus comandados, armados e dispostos em forma de cunha, pousou para a foto que se tornaria uma das imagens mais conhecidas da participação brasileira na 2ª Grande Guerra, ali estava o Sargento Max Wolff Filho e sua patrulha.

Horas depois, aquele homem conhecido por sua coragem, tombaria sob o fogo das armas alemãs, durante o cumprimento de mais uma arriscada missão. Morte que viria a afirmar o título de herói que recebia da imprensa de guerra já em vida, imortalizando o título, imortalizando o nome e imortalizando também a imagem registrada naquela foto.

Uma fotografia que os olhos riomafrenses apresenta outro rosto familiar, além da figura de Max Wolff, cuja configuração da própria fotografia tende a dirigir a atenção principal de quem observa, há a presença de outro conterrâneo nosso; ali, de arma em punho, o terceiro da direita para a esquerda a partir do Sargento, está Victório Scardazan.

Victório foi um expedicionário riomafrense que, além de integrar uma das imagens mais conhecidas do Brasil na Grande Guerra, possui uma história que pode ser considerada uma síntese das experiências vividas pelos soldados brasileiros (integrantes da Força Expedicionária Brasileira-FEB) naqueles conturbados tempos, a rotina do dia-a-dia, os anseios, as expectativas e os temores que cercavam e povoaram a mente dos nossos Pracinhas.

Às vésperas da declaração de guerra do Brasil à Alemanha, Itália e Japão, que seria motivada pelo afundamento de diversos navios mercantes brasileiros, Victório foi sorteado para prestar o serviço militar, era início do ano de 1942.

Apto nos exames de saúde, foi incorporado ao Exército e posteriormente incluído no lento processo de mobilização nacional de guerra, seguindo de trem à Curitiba e daí à cidade mineira de São João Del Rei, para o 11° Regimento de Infantaria – 11º RI, organização militar que da qual fariam parte também os riomafrenses Max Wolff Filho e Ary Rauen.

Em Minas Gerais, a partir daquele mesmo ano de 1942, além dos treinamentos militares, característicos da vida militar, iniciava-se a própria preparação para a guerra, tudo sob um clima interno e sentimento pessoal que mesclava as saudades de casa, da família, da namorada, à dúvida do que estava por vir, se apenas o cumprimento do serviço militar obrigatório ou a permanência e possível participação no conflito e, mesmo o difícil convívio com os companheiros de quartel, pois até que amizades fossem ali conquistadas, era comum, no início, o olhar desconfiado de muitos, sobre aqueles que fossem descendentes de imigrantes, principalmente dos imigrantes vindos de países aos quais o Brasil tinha declarado guerra.

E, foi aguardando o momento da baixa, o desligamento do Exército por ocasião do cumprimento do serviço militar, que o tempo foi passando, a mobilização nacional acontecendo, os treinamentos continuando até a ordem de organização (em agosto de 1943) e formação da Força Expedicionária Brasileira. Tropa brasileira que chegou a possuir um efetivo superior a 25.000 pessoas e que para muitos, inclusive a mídia da época, pela própria demora na sua organização, dificilmente iria combater naquele conflito, chegando-se a ironizar a situação na expressão que se tornaria célebre, de que “seria mais fácil uma cobra fumar do que a FEB ir para a guerra”.

Nessa idéia, para Victorio Scardazan, em setembro de 1944, no porto do Rio de Janeiro, após estar embarcado a dois dias em um gigantesco navio de transporte de tropas, “a cobra fumou”, o 11° RI partiu rumo à guerra na Itália.

E foi em território italiano que nosso conterrâneo teve, de certa forma gradual, contato com o fantástico e triste espetáculo proporcionado pela guerra: da visão do “cemitério” de navios afundados nas águas do porto de Nápoles; às ruínas que compunham o cenário de destruição das cidades italianas; do desconfortável transporte até Livorno, realizado em barcaças que haviam participado do desembarque Aliado na Normandia (França); do contato direto com a sofrida população italiana, cercada pela guerra, pela violência e pela fome; ao crescente sentimento da proximidade dos combates, do receio, dos temores e todas as outras tão marcantes sensações despertadas no ser humano pela aproximação da frente de batalha, lugar para onde, ao som do rugir dos canhões, se sabia, estava-se indo.

De Iola, a Guanela, a Bombiana ao Monte Castelo, da sensação de distância da guerra, quando aqui do Brasil; à destruição dessa mesma guerra ao alcance dos olhos; do barulho das explosões captadas pelos ouvidos ao calor do envolvimento nas batalhas; dos tiros, aos amigos, aos companheiros, aos mortos, aos mutilados, ao frio da neve; à eternização na fotografia da Patrulha do famoso, do herói e conterrâneo Sargento Wolff; ao retorno ao Brasil, à sua família e a sua terra; Victório viveu as alegrias, ao medos, as tristezas, as dores do soldado brasileiro, vivenciou um pouco daquilo que hoje temos por algumas das principais características da participação brasileira na 2ª Guerra Mundial.

E, se a participação em um grande conflito, onde se convive diariamente com as incertezas, com o contínuo risco de morte, com a luta contra o inimigo e contra as próprios sentimentos, já seria por si, algo impressionante, é sempre interessante e importante saber, que um homem comum, simples, que viveu aqui em Riomafra junto de nós, como é o caso de Victório Scardazan, mais do que simplesmente combater, o fazia em nome da “liberdade”, conforme, ele mesmo, de forma particular e despretensiosa, deixou descrito em suas anotações pessoais.

Victório Scardazan

Na Itália

Com o Mafrense e expecidionário Benur A. Muniz

Patrulha Sgt Max Wolff Filho