Estamos em uma semana em que gaúchos e amantes da cultura e das tradições do Rio Grande do Sul, festejam a chamada Semana Farroupilha, um evento, ou uma reunião de diversos eventos, que tem por objetivo relembrar e comemorar o início da “Revolução Farroupilha”. A mais longa das revoluções brasileiras, com quase 10 anos de duração, com certeza, representou uma das maiores (senão a maior), das “dores de cabeça” que o governo brasileiro sofreu naqueles já tumultuados idos de 1830/1840, tanto aos Regentes, quanto ao jovem imperador Dom Pedro II.

A Guerra dos Farrapos era um grave problema político/econômico, pois os “revoltosos gaúchos” (como eram chamados pela imprensa brasileira na época) acabaram por realizar um movimento separatista, transformando a até então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, em um país, ao qual chamaram República Rio-Grandense. E, ao mesmo tempo um problemão na área militar, pois o exército da recém criada nação, não só era capaz de resistir aos ataques das nossas forças imperiais, quanto repeli-lo e ainda avançar sobre o território Catarinense.

Mesmo ocorrendo antes do surgimento do Estado do Paraná, em uma época que, integrando o território lapeano, fazíamos ainda parte da Província de São Paulo, a Revolução Farroupilha é contemporânea ao início da formação de Riomafra, constituindo-se em um momento importante e muito difícil para nossos antepassados que, vivendo as repercussões do conflito e também, de certa forma participando de alguns de seus eventos, nos permitem atrever a dizer que, embora discreto e marcado por um saldo não muito positivo, tivemos uma pequena participação nessa grande Guerra Civil.

Uma participação que podemos dizer, foi em termos de território e de pessoas.

Em termos de território, éramos uma espécie de ponto estratégico, pois a eclosão da guerra gerou o temor de que os farroupilhas pudessem, além de dominar o Rio Grande, invadir Santa Catarina (como de fato aconteceu) e também São Paulo. Assim, pensando de acordo com o pensamento paulista, era aqui, em Riomafra, local onde a estrada do Viamão, amplamente utilizada pelos tropeiros como caminho às feiras de Sorocaba se dirigia, o ponto em que não se poderia, em hipótese alguma, permitir a passagem dos revoltosos.

Dessa forma, logo após o início do conflito em 1835, militares de um Batalhão de Montanhas, aqui chegaram com a missão de proteger o território e impedir um possível avanço farroupilha, estabelecendo-se para isso, na região do São Lourenço, ocupando as instalações do antigo “Abarracamento”, utilizadas pouco tempo antes, pelos construtores da Estrada da Mata,

Com o prolongamento da duração e agravamento do conflito, nos tornamos (como foi o caso da Lapa e de Curitiba) ponto de passagem e concentração de tropas, tanto daquelas que seriam enviadas à guerra, quanto a outras que haviam se retirado da área do conflito. Com esse fluxo de pessoas, vindas de diferentes pontos do país, em um período e ocasião de poucos recursos, espalhou-se pelos militares a varíola. Uma “peste”, como muitos a ela se referiam, que contaminou também a população local, levando grande número de pessoas à morte.

Quando Lages foi tomada pelos farroupilhas, a província de São Paulo ficou alarmada, pois a revolução avançava além das fronteiras da República Rio-Grandense, a partir daí, novas forças militares passaram a desembarcar em Paranaguá com destino ao Rio Negro, fazia-se necessária uma investida do Império Brasileiro contra a ameaça, que embora distante, via-se em movimento de aproximação.

É aqui, na nossa terra que os militares foram reunidos, agregando-se a eles grupos de voluntários da região (que representaram nossa participação no conflito em termos de pessoal) e, sob a denominação de Coluna do Rio Negro e comando do experiente Brigadeiro Francisco Xavier da Cunha (que já havia participado de diversos combates nessa mesma guerra), que a tropa atinge um contingente de aproximadamente 2.000 homens.

Então em 1839, com a missão de auxiliar na retomada de Lages e Porto Alegre, a Coluna do Rio Negro põe-se em marcha para o Sul, entra em combate e obtém sucesso em Lages, de onde, contrariando ordens que havia recebido, o Brigadeiro Cunha divide sua tropa e com um grupo de apenas 150 soldados e segue outro cainho, em direção ao rio Pelotas.

Em 14 de dezembro daquele ano, próximo a um posto de cobrança de impostos sobre os animais que eram levados de Viamão à Sorocaba, conhecido como Santa Vitória, Francisco Xavier da Cunha foi surpreendido e derrotado pelos farroupilhas, que encontravam-se com um efetivo militar 5 vezes maior que o seu.

Apesar do fracasso de Santa Vitória, onde a maior parte dos soldados brasileiros foi morta ou aprisionada e, também onde o Brigadeiro Cunha acabou morrendo afogado no rio Pelotas ao tentar escapar, o nome do Capitão Valenteniano José de Lima, originário do Campo do Tenente, recebeu destaque, por comandar um grupo que, mesmo travando intenso combate com o inimigo, conseguiu salvar-se com pouquíssimas perdas humanas.

Entre conterrâneos envolvidos em combates, a passagem e permanência de tropas militares, Riomafra esteve em clima de revolução até 1845, quando ao término da Guerra dos Farrapos, as tropas militares retornaram aos seus locais de origem, deixando nossa terra, inclusive o Batalhão de Montanhas que guarnecia o São Lourenço.