Domingo passado, 11 de agosto, foi “Dia Nacional do Estudante”, homenagem a todos aqueles que se dedicam aos estudos e, que faz alusão direta à data de criação, em 1827, dos primeiros cursos de “Ciências Jurídicas” no Brasil.

Mesmo sendo celebrado a mais de oito décadas (desde 1927) e, apesar de não estar entre as datas comemorativas mais conhecidas do país, o “Dia do Estudante” ainda leva (mesmo que discretamente) aqueles que o conhecem, ou mesmo são informados por aqueles que o conhecem, não só a refletir a questão do estudante hoje, no século 21, como relembrar os seus próprios tempos de estudante, sejam eles no nível superior ou na educação básica.

Lembranças que a princípio, são em sua maioria positivas, trazendo à memória momentos de aprendizado, amizade, companheirismo, respeito e, porque não, de diversão. Lembranças tão positivas quanto diferentes da realidade de hoje em dia, pois vivemos em um mundo dinâmico, marcado por mudanças constantes e contínuas, que abrangem também a área da educação. Assim como métodos, abordagens, técnicas e a própria visão de ensino surgem e se aperfeiçoam, a própria atuação dos profissionais envolvidos nesse processo é repensada e melhorada.

Enquanto educadores discutem e preocupam-se com meios de trabalhar com a crescente “indisciplina” dos alunos, procurando diferentes formas de abordar o problema, sem prejudicar de qualquer forma a liberdade, direitos e personalidade dos alunos, antigamente o problema tinha uma solução simples, instituída e não muito ortodoxa: O castigo físico e psicológico!

Assim a indisciplina podia ser, a exemplo de hoje, também problema dos professores, mas com certeza tinha consequências bem mais diretas, doloridas e por assim ser, preocupantes aos próprios estudantes.

Para quem possa imaginar a aplicação de castigos físicos como sinal de maldade ou mesmo algum tipo doentio de diversão para “professores sem coração”. Esse tipo de punição a alunos era uma prática comum na maioria das escolas até o século 19 e parte do século 20, devidamente amparada pela moral e pela legislação da época. Assim, a palmatória (instrumento de madeira usado para bater nas mãos dos alunos) dividia, sem embaraço algum para os educadores, o espaço com réguas, lápis e outros materiais pedagógicos.

E, vale ressaltar que a idéia não era fazer nenhuma criança ou adolescente sentir “dor”, pelo menos não somente “dor”, mas também “vergonha”. Numa mistura que chega a soar brincadeira, mas que traduz bem a visão de autoridades, educadores e famílias daquele período, sobre a melhor forma de se disciplinar os jovens.

Como o que dispunha o “1º Regimento de Ordem Geral para Escolas de Ensino Primário do Estado do Paraná”, de 1857, ao prever que: “Os professores empregarão os castigos com amor, proporcionais e discrição, mostrando-se animados de puro sentimento de caridade”; ou ainda que, além de uma relação de castigos pré-estabelecidos se pudesse fazer uso da imaginação e criatividade nesse mesmo tema, pois podiam ser aplicados: “Outros castigos que excitem o vexame, como mandar ficar de pé ou de joelhos, evitando a hilaridade dos observadores”.

Algo que soa muitíssimo estranho aos nossos ouvidos, mas que amparava as práticas punitivas com o emprego do castigo físico e psicológico, como repreensões verbais em caráter reservado e em público, como levando ao sentimento de humilhação ao sentar isolado do restante dos colegas e de costas à turma, no chamado “banco do castigo”; como sofrendo agressões na forma de tapas e puxões de orelha; ou ainda congregando dor e humilhação, no ajoelhar sobre sementes milho.

Nessa época, em que atribuir tarefas extras de casa também tinha o caráter punitivo, pior do que apanhar ou ser humilhado na escola era ter seus pais chamados pelo Diretor (o que só acontecia após a aplicação de todas as medidas punitivas cabíveis aos educadores), pois pai, mãe ou outro responsável legal, era comunicado com o objetivo de que em casa, fossem ministrados “maiores castigos”.

Se tais medidas podem até parecer, para alguns, algo ilegal mas aceitável diante das assombrosas demonstrações de indisciplina estudantil da atualidade, cabe lembrar que no século 19 e, ainda por algum tempo no século 20, o conceito de “indisciplina” era um tanto mais amplo, podendo abranger desde um aluno realmente agressivo, até o preguiçoso, o esquecido, o com problemas de aprendizagem ou mesmo o crítico, que tinha a “ousadia” de, demonstrando opinião própria ou conhecimento, questionar ou discordar do seu professor.

É claro que, apesar de parecer algo cruel e desumano a nossos olhos, vale lembrar que falamos da mentalidade de um outro tempo, onde os castigos não eram tidos por maldades, mas sim como meios legais e necessários ao trato da indisciplina (ao menos oficialmente).

Mas, apesar desses métodos altamente questionáveis, sem dúvida ser estudante é e sempre foi algo muito bom, que deixa saudades e que com certeza deixa marcas em nossa vida; também é igualmente muito bom, o fato do mundo ser dinâmico e mudar com o passar dos anos, legando ao passado uma série de práticas totalmente inadequadas e ineficazes que um dia foram tratadas como “educação”.

Carteira escolar antiga

Maiores punições

Palmatória