Construir é uma arte, seja o que quer que seja construído, de pequenos objetos, decorações, ferramentas até casas e prédios, uma arte na qual os bons resultados não dependem apenas da vontade daquele que constrói, é preciso conhecimento, é preciso técnica, é preciso experiência e, porque não, é preciso ser um artista e ter aptidão para isto.

A arte do rebuscado, das formas chamativas, impressionantes, do caro e do grandioso, como vemos comumente na TV, internet e até em nosso dia a dia, as vezes pode nos dar uma falsa impressão de que somente aquilo que é caro, que leva nomes famosos ou é feito ou direcionado a celebridades é digno de ser chamado de arte, numa ideia de elitização do saber construir.

Para ver arte, para notar a presença de uma técnica dominada por pequenos grupos de pessoas, basta olhar à nossa volta e atentar também para as coisas simples que nos cercam e que estão ao nosso alcance.

Me chama a atenção e sempre me impressiona a cada novo exemplar que observo e, que considero um belo exemplar disso que chamo “arte do construir”, as edificações erguidas no estilo chamado “enxaimel”, com seus tijolos e vigas de madeira aparentes, que chamam a atenção nas paisagens de cidades como Joinville, Jaraguá do Sul, Blumenau ou Pomerode, mas que embora não tão destacados, também podem ser vistas aqui em Riomafra.

Estilo de construção trazido para cá por nossos imigrantes, chamado na Alemanha de “Fachwerkbau” que significa “construção em prateleiras”, o  enxaimel não foi logo utilizado na chegada de nossos imigrantes, nas suas primeiras obras, sem uma condição financeira e material necessária à ereção de casas num padrão mais sólido e duradouro, as primeiras residencias eram em sua maioria simples, construídas  rusticamente em madeira, em caráter provisório, para abrigar e proteger a família. Só depois de estabilizada a situação da família é que se construía a casa melhor, geralmente em enxaimel.

Mas a razão levou a se mesclar madeira e alvenaria nas paredes das casas não pode ser justificada pela beleza visual que ocasiona,  mas pelo fato da necessidade de se adequar as construções aos materiais disponíveis lá na Europa.

Numa época onde as casas eram construídas empregando-se, em quase sua totalidade,  troncos de árvores, a demanda de madeira para essas construções era muito alta, o que ocasionou em certo tempo a diminuição da madeira disponível (coitadas das florestas!), então teve-se que criar algo, um novo modelo de construção, que demandasse uma menor quantidade de madeira.

Lembrando que cimento, concreto ou qualquer outro tipo de argamassa para  o feitio de vigas de sustentação  não era algo muito difundido ou tão pouco barato, o enxaimel tornou-se a tradução prática dessa necessidade.

Fazendo as vezes de nossas vigas de concreto atual, a madeira passou a compor as paredes de forma vazada, ou seja dava forma à casa, como um esqueleto de madeira. Como os encaixes que formavam figuras quadradas ou retangulares da estrutura das casas não são rígidas (firmes) como deveriam ser para se evitar alterações na estrutura (num processo de entortamento), foram empregadas escoras transversais também de madeira, para dar estabilidade às paredes. Com a estrutura de madeira montada, as partes vazadas das paredes eram preenchidas com tijolos ou mesmo pedras, dando o visual que conhecemos.

O que ainda deixa essas construções ainda mais belas é um detalhe (mas fundamental) que permanecia um tanto escondido que, pouco ou nada pode ser percebido com a casa pronta, em muitas dessas casas não eram utilizados pregos na montagem da estrutura de madeira, as vigas eram todas cuidadosamente trabalhadas e encaixadas umas às outras, sendo travadas por uma peça também produzida em madeira. Algo sem dúvida fantástico!

Um tipo de construção muito difundido entre nossa população no passado, um símbolo da nossa cultura e da nossa história, algo simples e ao mesmo tempo técnico e com ares de arte, que muitos conhecem mas cada vez ficam mais raros de ser observados nesses dias, onde a simplicidade do antigo é facilmente demolida pelo presente sem consciência.