No início de 1894, o avanço gradativo dos Maragatos rumo ao Rio de Janeiro continua. Após tomar o controle de Rio Negro, que não ofereceu resistência após o recuo das tropas Republicanas, os gaúchos se prepararam para seguir rumo à Curitiba, saqueando e recrutando adeptos.

Naquele momento, o Paraná estava sendo invadido com sucesso pelos Maragatos em “três frentes”, três diferentes locais: Paranaguá, conquistada já no início de janeiro; Tijucas, que resistiu a três dias de combate (15, 16 e 17 de janeiro); e a Lapa, no caminho entre Rio Negro e Curitiba, onde os embates iniciaram em 13 de janeiro (antes disso, a Lapa havia enviado parte de seu efetivo, cerca de 500 soldados, em auxílio à Paranaguá e Tijucas).

Com cerca de 900 homens, entre soldados e “voluntários” a tropa Pica-Pau do Coronel Carneiro (na Lapa) representava uma pedra no caminho gaúcho que, na visão maragata, deveria ser retirada, dessa forma, a Lapa foi cercada, num cenário onde os Republicanos tinham consciência de que levavam desvantagem nesse confronto, por isso se fecharam na cidade, pois se restringindo a defesa, tinham maior chance de resistir ao inimigo, esperando que durante esse tempo de luta, recebessem reforços externos que permitissem, aí sim, ter uma postura mais ofensiva.

Um reforço, solicitado à capital paranaense, que nunca veio, pois diante da situação paranaense, o governador, Vicente Machado e o General Pêgo Júnior, Comandante das Forças Legais, abandonaram Curitiba em direção à Castro, deixando a própria cidade sem forças policiais para garantir sua defesa ou mesmo a segurança da população.

Cercado por tropas federalistas sob o comando de alguns dos principais líderes militares da revolução, como Gumercindo Saraiva, Juca Tigre, Torquato Severo, Aparício Saraiva, General Piragibe e Laurentino Pinto, os subordinados do Coronel Carneiro, entre os quais figuravam nomes como o do Major Felipe Schmidt, do Capitão Lauro Müller, do Coronel Cândido Dulcídio Pereira, comandante do Regimento de Segurança do Paraná (atual Polícia Militar) e do Coronel da Guarda Nacional, o lapeano Joaquim Lacerda, buscaram utilizar casas, trincheiras e barreiras erguidas nas ruas como proteção aos ataques federalistas, que vindos de todos os lados, ainda contavam com canhões, que posicionados em locais estratégicos, como noalto do morro do monge,disparavam sobre a cidade.

Nesse ponto é interessante destacar alguns aspectos da tática empregada pelos Maragatos para combater os Republicanos, o “Cerco” que marca o episódio, não representa apenas a oportunidade de atacar o adversário por todas as direções possíveis, ele (o cerco) impede a entrada e saída de tudo aquilo que venha a beneficiar ou ajudar de qualquer forma o sitiado, sejam reforços, armas, munições, comida, água e até mesmo a comunicação com outras tropas, assim, além do ataque físico, o cerco possibilita a vitória pela falta de itens básicos ao ser humano que encontra-se cercado e, pelo abalo psicológico, ocasionando também a ocorrência de cenas horrendas, dignas dos grandes filmes de guerra do cinema.

Não sendo aceita qualquer possibilidade de rendição pelo Comandante Republicano, o Coronel Carneiro, os combates prosseguiam e se intensificavam. O aperto gradativo do cerco, que no dia 04 de fevereiro já estava dentro da cidade, e a passagem dos dias levaram a consequentefalta de munição, comida e água, situação agravada pelo crescente mau cheiro exalado pelos cadáveres insepultos que jaziam pelas ruas.

Cercado, abandonado, vendo sua tropa diminuir a cada dia diante de um inimigo maior e mais forte, o Coronel Carneiro manteve-se em combate junto de seus homens até o dia 7 de fevereiro, quando foi gravemente ferido, um tiro no abdome que dois dias depois o faria juntar-se às centenas de soldados ali falecidos.

Exauridos, no dia 9 (após 26 dias de batalhas), sob o Comando do Coronel Lacerda, a tropa republicana da Lapa negociou e assinou o termo de rendição, em que os Maragatos garantiam o direito à vida, à liberdade e à propriedade de todos que ali estavam o que como em qualquer guerra, não foi rigorosamente cumprido.

Dos 900 soldados Pica-Paus que iniciaram a defesa da Lapa, menos da metade (430) ainda estavam vivos no dia da rendição que, apesar de parecer somente uma derrota, foi uma grande vitória para o governo do Presidente Floriano Peixoto, que graças à resistência da nossa cidade vizinha, teve tempo necessário à reunião das forças militares que deram fim à pretensão Maragata e encerraram uma das maiores revoluções armadas da nossa história, mas que derramariam ainda muito sangue na caça a todos aqueles que de alguma forma pudessem ter ajudado os federalistas durante a guerra, inclusive aqui em Riomafra, mas isto é uma “outra história”…

Degola

Republicanos

Tropa maragata