Tropeiros

É difícil definir qual o fato, ou mesmo quando teve início a história do município de Mafra. A passagem de desbravadores, dos primeiros tropeiros, a abertura da estrada da mata, a chegada dos colonizadores alemães ou então outro fato de grande vulto, podem ser levados em consideração para a fixação do ponto inicial, porém sempre sujeito à subjetividade dos pontos de vista. Interpretações à parte, incontestável ou no mínimo muito consistente, é de que por mais que a data e fato do início de nossa história estejam sujeitas à interpretação de pesquisadores e leitores, ela começou no São Lourenço.

A pacata localidade mafrense, guarda consigo não somente o gérmem da nossa história, como também grande parcela dela, cuja importância transcende sua condição de localidade do interior e assume importância em âmbito estadual e até nacional.

Muito antes da criação do município de Mafra, o São Lourenço já era cruzado por tropeiros  e exploradores em suas viagens, realizadas principalmente entre o Rio Grande e São Paulo, como mostram os registros do Sargento-Mor Francisco de Souza Faria, responsável pela abertura de um caminho entre Laguna a Curitiba, que apontam o São Lourenço como parte do itinerário de sua viagem em 1730, ou então, a passagem da tropa do Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria em 1745.

Não apenas caminho das tropas, o São Lourenço ou Curralinho, como costumava ser chamado, era ponto de parada de tropeiros e local de referência dentro desse trajeto, pois a partir dali iniciava-se a região tida como  “sertão”, cujo caminho ali existente conduzia ao Sul e consistia em importante elo de ligação entre o Rio Grande e São Paulo, o que levou o São Lourenço a figurar, mesmo na qualidade de localidade, no mapa do Estado do Paraná.

Foi no São Lourenço que em 1826, João da Silva Machado, o Barão de Antonina, com a incumbência da abertura da Estrada da Mata, construiu uma série de benfeitorias destinadas ao suporte e abrigamento dos trabalhadores empregados na referida obra, que ficou conhecida como “abarracamento”. Local que também acolheu o pequeno grupamento militar, responsável por proteção contra o ataque de índios e manutenção da ordem entre os trabalhadores.

Esse abarracamento foi, em 1835, após a eclosão da Guerra dos Farrapos, ocupado por um contingente militar paulista, a nível batalhão, a fim e guarnecer aquele caminho que conduzia à província rebelde. Nesse período o São Lourenço tornou-se ponto de concentração de tropas vindas de diversas partes do país, como foi o caso do 6° Batalhão de Caçadores e várias tropas da Guarda Nacional. Segundo consta, foram os soldados que trouxeram consigo a “peste”, disseminando a varíola que ceifou mais de 2.000 vidas em nossa cidade e que fez com que os falecidos fossem enterrados juntos de seus pertences, numa tentativa de conter a contaminação pela doença, originado um cemitério que ainda persiste naquela localidade.

O São Lourenço ainda sentiu diretamente as ações da disputa pelos territórios limítrofes entre Paraná e Santa Catarina, durante a questão do Contestado, tendo suas pontes sobre o rio de mesmo nome, destruídas por forças policiais paranaenses em 1896, com o objetivo de prejudicar o transporte de erva mate entre Rio Negro – São Bento e Joinville.

Em meio a tudo isto, tropeadas, militares, doenças e disputas políticas, colonos europeus, principalmente alemães e posteriormente alemães-bucovinos, colonizaram aquela área, fazendo da região das “capoeiras” uma área produtiva, cujo direito de posse sobre aquelas terras foi por muito tempo negado e questionado pelo fato de serem estrangeiros.

Com um passado marcado pela sucessão de acontecimentos tão distintos quanto relevantes para a nossa história, o São Lourenço, muito mais do que uma simples localidade do interior, é local que concentra em si a síntese e o gérmen da história de todo o município de Mafra.