Relatos sobre o período que se serviu ao exército podem ser ouvidos com facilidade em rodas de conversa em nossas cidades. Histórias empolgantes, causos engraçados ou mesmo relatos sofridos, às vezes expostos de forma “um pouco” superdimensionada, povoam com freqüência as conversas dos riomafrenses.

Do tiro de guerra, ao Batalhão Mauá, ao Batalhão de Comunicações e até a atualidade com o 5° RCC, vemos que organizações militares se sucedem em nossa terra desde a década de 1920. Mas, a ligação de Rio Negro e Mafra ao fator militar é mais antiga do que pode a princípio parecer. Antecedendo a presença dessas unidades, Riomafra já possuía um organismo militar, ou melhor, paramilitar, sem sede fixa ou funcionamento regular, mas que efetivamente entrou em combate em importantes episódios de nossa história: A Guarda Nacional.

A Guarda Nacional foi criada em 1831, durante o período regencial (após a abdicação de D. Pedro I e enquanto D. Pedro II não podia ser coroado imperador por ser menor de idade) em que a turbulência política levou a ocorrência simultânea de diversas revoltas armadas pelo país, às quais a então estrutura do exército, não tinha condições de comportar, seja pelo pequeno efetivo, seja pelas dificuldades de deslocamento em tempo oportuno até o local da revolta, devido tanto à extensão territorial do país, quanto à quantidade e alcance dos meios de transporte disponíveis na época.

Assim para poder atuar com uma força armada em todo o território nacional, fazendo frente a guerras ou revoltas, em apoio ao exército e, sem demandar para isso, de grandes despesas financeiras, o governo regencial criou e organizou a Guarda Nacional de forma a constituí-la com a população civil existente em cidades e localidades do país.

Dessa forma, os integrantes da guarda eram recrutados entre os cidadãos (e seus filhos) que possuiam direito de voto, lembrando que somente tinham esse direito, aqueles que possuíssem renda superior a 100 mil réis. Essas pessoas, apos receberem um rápido treinamento, continuavam a exercer normalmente suas profissões em suas rotinas diárias, não exercendo, portanto a atividade militar, para a qual seriam convocados em caso de necessidade.

Inicialmente a organização hierárquica da maior parte da guarda era montada a partir de eleição realizada entre seus próprios integrantes, o que logo depois foi alterado para a concessão de postos militares pelas Câmaras Municipais ou pelo Governo das Províncias, passando a ter caráter político. Os agraciados com a concessão passavam a utilizar a patente militar como título, junto aos seus nomes, como soa os casos, entre muitos outros, dos riomafrenses Coronel Nicolau Bley Netto e Coronel José Severiano Maia.

Do organismo inicial da Guarda Nacional em Riomafra, uma seção de cavalaria, subordinada à estrutura da Vila Nova do Príncipe (Lapa), montada ainda na primeira metade do século 19, por algumas oportunidades sua convocação ou mesmo o emprego extra-oficial de integrantes pode ser vista, como em 1838 com a criação da “Divisão do Rio Negro” para combate às forças farroupilhas, em 1893 para fazer frente aos maragatos durante a Revolução Federalista, em 1914, nos combates no Contestado e também em 1930, mesmo após sua extinção, na revolução que levou Getúlio Vargas à presidência da república.

Porém, foi o crescimento do poder e autoridade dos coronéis, tanto sobre os guardas quanto sobre a população, que chegou a ocasionar, em algumas oportunidades pelo Brasil, a convocação e colocação da tropa contra o próprio governo e o exército, em ações com motivações particulares, que contribuíram para a extinção oficial da Guarda Nacional em 1922.

Assim, ao passo que a Guarda Nacional deixava de existir, iniciava em Riomafra um novo contexto de organização militar, com a chegada e instalação das organizações militares regulares, cuja presença se faz até os dias de hoje.

Elementos da Gurda em atuação no Contestado

Grupo de Guardas

Guardas Nacionais durante a Revolução federalista

Primeiros uniformes da Guarda Nacional

Cel Bley Netto (sentado)