Monge João Maria

“Fé” é a capacidade das pessoas em acreditar em algo, termo que geralmente se emprega ao nos referirmos a crenças no sentido religioso, sejam elas ligadas a entidades divinas, igrejas, fatos ou mesmo pessoas.

Costume, tradição ou fenômeno, o fato é de que a fé religiosa (seja ela qual for) faz parte da essência do ser humano, pelo menos da maioria, não só estando presente desde os primórdios de sua existência, quanto, perpetuando-se pelo tempo nas mais diversas formas.

Mantendo-se por períodos históricos favoráveis a sua propagação e culto, assim como também em épocas totalmente desfavoráveis, de proibição e perseguição (como o princípio do cristianismo ou o judaísmo durante o regime nazista), as ações de censura não revelam-se com força suficiente para extinguir uma crença.

Seja a censura exercida com o cunho político, religioso ou policial, que é claro, podem restringir manifestações públicas; seja de forma escancarada ou velada; a verdade é que a “fé” mantém-se em períodos turbulentos em caráter reservado, discreto e familiar, longe do alcance direto dos meios de coerção.

Às vezes, a fé religiosa leva a sincretismos (fusão de crenças), a adoção de práticas não recomendadas pela própria religião a qual se segue, como é, por vezes, o caso dos simpatias e benzimentos e, também a concepção popular de fatos ou pessoas como “sagrados”, mesmo  não sendo assim reconhecidos pelas religiões oficiais, como é o caso do culto como “Santo” ao Padre Cícero no Nordeste do Brasil.

Caso curioso desse tema, também pode ser visto aqui em Riomafra,  cercando a personalidade do “Monge João Maria”. Um homem (ou três fundidos em uma única pessoa numa grande confusão popular), que no século 19, em andanças por esta região, pregou a palavra de Deus a seu modo, numa espécie de catolicismo rústico, à população local, pessoas simples, humildes e desassistidas, às quais pregava, benzia, aconselhava e para muitos, também curava, como o milagre do fim da epidemia de varíola em Riomafra, creditado as cruzes que mandara erguer por volta de 1850.

Mas para quem pareça que a crença no Monge é apenas passado, como na época em que a cruz da praça Hercílio Luz foi para o cemitério e voltou “misteriosamente”, vale um olhar mais atento a sua volta, pois não são nem um pouco raras as pessoas que se detém diante da mesma cruz, oram, acendem velas e colocam flores, muitas vezes em agradecimento pelo atendimento de promessas.

Pelo interior de nossos municípios é comum encontrar nas paredes das casas, entre quadros de santos, local a ele reservado não por acaso, o conhecido retrato do Monge, sentado segurando os joelhos, assim como a presença dessa mesma fotografia dentro de pequenas capelas erguidas ao longo das estradas, em homenagem a este ou aquele santo.

Ainda, há cruzes supostamente mandadas erguer pelo monge durante alguma de suas passagens por aqui, ou mesmo lugares onde essas cruzes já existiram (tombadas devido a ação do tempo), em que até hoje, crianças são batizadas de forma caseira, seguindo costume que teria sido sugerido pelo Monge, mas que é procedimento desaconselhado pela igreja.

Tal é a fé no Monge, que por toda essa região ele é tido popularmente como Santo, o que é valido lembrar: sem a existência de qualquer processo de beatificação ou canonização junto à igreja Católica. Mas, apesar de não sê-lo oficialmente, não é somente na mente das pessoas que o Monge é santo, pois temos materializado essa “fé” na forma de uma rua em Mafra,  na área central aliás, que é denominada rua “São João Maria”.

Dessa forma, vemos não só a capacidade que uma crença possui em se perpetuar, mesmo após episódios de censura e violência, como a Guerra do Contestado, ou então a falta de uma ligação direta com uma religião oficial, mas que a base da aceitação dessa mesma fé, não está em templos ou propagandas, mas na simples capacidade humana de acreditar.

Capela na praça Hercílio Luz

Interior da capela

Placa da rua São João Maria