Recordar a história da Estação Ferroviária de Mafra, não se resume a uma mera descrição de acontecimentos reunidos ao longo do tempo em torno de um local, pois essa História, é composta de episódios cuja importância e repercussão vão muito além das antigas paredes de madeira, da plataforma ou dos próprios trilhos do trem, episódios que, como o apito das locomotivas, ecoam pelo tempo, fazendo parte e contando, alguns dos grandes episódios da nossa História.

Em 1913, a ferrovia conhecida como “Linha do São Francisco”, que ligava o Porto de São Francisco do Sul à Joinville e Corupá, foi prolongada até Três Barras (seguindo posteriormente até Porto União), fazendo entroncamento com o ramal do Rio Negro (que se dirigia a Curitiba e a região dos campos gerais), pela margem esquerda do rio, o que ocasionou a criação de uma 2ª estação de trem na sede do município, inaugurada em 1° de abril daquele mesmo ano.

Protegida por militares da Coluna Leste durante a Guerra do Contestado entre 1914 e 1916, devido a importância estratégica da ferrovia, foi em 1917, com a definição das fronteiras entre os Estados de Santa Catarina e Paraná, que esta estação, assim como o novo município aqui criado, receberam a denominação de “Mafra”.

Em outubro de 1930, a agora “Estação de Mafra”, revelou-se outra vez como ponto estratégico, afinal possibilitava, o rápido deslocamento à São Francisco, Porto União, Curitiba e demais cidades que integravam essas linhas ou a elas estavam ligadas. Durante a Revolução de 1930, que conduziu Getúlio Vargas à Presidência da República, a Estação foi tomada pelos revolucionários do Batalhão Patriótico mafrense, tornando-se ponto de partida e passagem de tropas.

Trens diários à São Francisco do Sul, Porto União e Curitiba, conferiam grande movimento de passageiros à estação, que chegou a contar com mais de 60 funcionários, entre maquinistas, operadores de telégrafo, telegrafistas, rádio-telegrafistas, manobreiros, chefes de trens, agentes de estação e funcionários responsáveis pelas composições, bagagens, e armazéns de cargas, além de possuir também um restaurante em suas instalações.

Com a presença do Governador Celso Ramos e do Ministro de Viação e Obras Públicas, Hélio de Almeida, em 19 de maio de 1963, realizou-se nesta estação a solenidade de incorporação ao sistema ferroviário brasileiro, do trecho com 234 km entre Mafra e Ponte Alta do Norte (construído pelo 2° Batalhão Ferroviário – o Batalhão Mauá), um importante incremento ao entroncamento ferroviário mafrense, que passou a integrar o chamado “Tronco Principal Sul”, sendo agora também ponto de saída da linha Mafra-Lajes.

Completamente tomada pela população, foi na Estação de Mafra que o Batalhão Mauá, após 26 anos de atuação na área de engenharia ferroviária nesta região, despediu-se dos riomafrenses no dia 06 de maio de 1965, em razão de sua transferência para Araguari-MG.

Foi nessa mesma década que o antigo prédio, que centralizava os serviços de embarque e desembarque em Riomafra e, que já havia sido reformado em 1921, sofreu sua maior alteração, com a substituição da estrutura de madeira por outra em alvenaria, ganhando os traços que preserva até nossos dias.

Da mesma forma como um dia, o lombo dos cavalos e a navegação foram os principais meios de transporte deste Município, o desenvolvimento tecnológico e de infra-estrutura ocorrido ao longo do tempo, como a abertura das rodovias BR 116 e BR 280, a popularização dos automóveis e a maior velocidade de seus deslocamentos, fizeram com que aos poucos, o transporte de passageiros por trens fosse abandonado, até findar por completo entre as décadas 1980 e 1990.

Abandonada por anos, a Estação de Mafra em 2006 foi reformada e, desde então, abriga a sede da Secretaria Municipal da Criança e da Ação Social, mantendo a estrutura física dos tempos em que aqui ecoava o apito das Marias-Fumaça.